quinta-feira

Colaborações


Um pouco mais de sol – eu era brasa.
Um pouco mais de azul – eu era além.
Mário de Sá-Carneiro, «Quase»




Os círculos apertam-se contra a rigidez das horas
e eu vejo, concentricamente, que nunca saberei viver.

Tento soerguer-me
aparecer-te na soleira da porta
com a dignidade de quem vai sair de casa
para apanhar as flores vermelhas das romãzeiras
(e tas trazer, como quem devolve à rosa a rosa que há nela)
mas sucumbo perante a lisura da superfície da água
a rugosidade da porta de madeira que acaricio
o espanto de tudo não ser livre.

Perco-me dentro disto que não defino
e que quase era brasa, quase era além
quase astro a incandescer o céu.

Uma aflição ocupa este corpo devoluto.

Os dias pousam na vida sem a tocar, como uma lente,
e a brevidade de todas as coisas
toca-nos com a sua lupa fria.

Margarete Rodrigues

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