terça-feira



O Rapaz Que Queria Ser Um Livro


T adormeceu com o desejo de ser um livro.
Um livro… um livro com pernas e olhos e a sorrir, com capa e com folhas que se pudessem ter nas mãos e passear entre os dedos, e letras, e o cheiro das letras e das folhas e as coisas lá dentro… um prado verde dentro de um bosque ainda mais verde de árvores antigas de um meio dia de Junho e caminhos… muitos caminhos da cor da terra que os come e os alimenta e lá ao fundo…lá ao fundo,um muro. Um muro e muito musgo e mais verde em farrapos a cobrir o granito já gasto e quedo, quase escondido, de atalaia atrás de uma velha e frondosa árvore de quem já ninguém lembrava o nome e uma tabuleta que dizia proibida a entrada a quem não andar espantado de existir. Entrou.
Depois, quando acordou, viu que não podia ser um livro, aquele livro. Faltavam-lhe as duas últimas páginas.

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