segunda-feira

Há um corpo que envolve todo o conjunto do mundo, e pode-se representá-lo de forma circular porque é esta a forma do Todo... Imagine-se agora que sob o círculo deste corpo estão os trinta e seis decanos, no centro entre o círculo total e o círculo do zodíaco, separando estes dois círculos e por assim dizer delimi­tando o zodíaco, que andam ao longo do zodíaco juntamente com os planetas... As mudanças dos reis, a sublevação das cidades, a carestia, a peste, o refluxo dos mares, os terramotos, nada disto tudo tem lugar sem a influência dos decanos...
(Corpus Hermeticum, Stobaeus, excerptum VI)




"Mas qual sabedoria?"
“Apercebe-se de como foi grande a época entre os séculos II e III depois de Cristo? Não pelos fastos do império, em dec1ínio, mas sim pelo que entretanto estava a florescer na bacia mediterrânica. Em Roma os preto­rianos massacravam os seus imperadores, e no Mediterrâneo florescia a época de Apuleio, dos mistérios de Ísis, do grande retorno da espirituali­dade que foram o neoplatonismo, a gnose... Bons tempos esses, em que os cristãos ainda não tinham tomado o poder e mandado para a morte os hereges. O mundo estava cheio de maravilho­sas correspondências, de semelhanças subtis, era preciso penetrá-las, deixar-se penetrar por elas, através do sonho, do oráculo, da magia, que permite agir sobre a natureza e sobre as suas forças movendo o seme­lhante com o semelhante. A sapiência é inexpugnável, volátil, foge a todas as medidas. É por isso que naquela época o deus vencedor foi Hermes, inventor de todas as astúcias, deus das encruzilhadas e dos ladrões, mas também artífice da escrita, arte da evasão e da diferença, da navegação, que leva ao fim de todas as fronteiras, em que tudo se confunde no horizonte, das gruas para elevar as pedras do solo, e das armas, que transformam a vida em morte, e das bombas de água, que fazem levitar a matéria pesada, da filosofia que ilude e engana...”

Umberto Eco
O Pêndulo de Foucault


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